Curitiba se despede do icônico escritor Dalton Trevisan.
Numa segunda-feira chuvosa e fria de dezembro - o que não é comum para a época do ano, Dalton Trevisan parou de espiar pela janela. Aos 99 anos, o "Vampiro de Curitiba" despediu-se da vida física, discreto. Bem que tentou manter o anonimato até para sair de cena, mas o que o tímido escritor não poderia conter era a curiosidade de seus amigos e admiradores. O derradeiro obituário fora publicado e, minutos depois, desaparecera do site oficial da prefeitura, como cinzas ao vento. Um pedido da família - ou do próprio Dalton, que - ao que parece - deixou uma lista de recomendações para serem seguidas após sua morte.
A curiosidade então tomou conta das rodas de conversa (hoje representadas pelos grupos de WhatsApp), até que o fotojornalista Franklin Freitas registrou a cena que todos especulavam: havia mesmo um carro funerário em frente a sua residência e a foto ganhou destaque no jornal. A família tentou seguir o pedido derradeiro, mas não dava pra esconder. Logo em seguida, a nota voltou ao obituário e as matérias sobre Dalton Trevisan começaram a pipocar pela imprensa, confirmando sua partida.
O lendário escritor tinha essa peculiaridade, não gostava de ser fotografado, frequentava a livraria do Chain e alguns poucos lugares do centro de Curitiba, e era visto em raras oportunidades, por quem realmente sabia quem ele era. Estava morando num apartamento na Alameda Dr Muricy, no centro de Curitiba, há poucos anos. Mantinha uma vida discreta. Fazia parte do "personagem", diziam. Gostava de manter esse anonimato de tal forma que, após a notícia de sua morte, muita gente afirmou, com lamento, ter pensado que ele já havia morrido.
Mas Dalton vive e sempre viverá! Vampiros não morrem, eles são imortais. Estamos o tempo todo sendo observados - agora não mais por ele, mas por gente famosa e anônima, de todos os lados. Seja nas redes sociais, seja na rua, ou até num assento de avião. Nossas atitudes sendo julgadas e descritas por quem quer que seja... da maneira como veem, ou como querem, ou como criam em suas mentes, diante de suas próprias expectativas.
A obra de Dalton Jérson Trevisan é capítulo importante da história da literatura paranaense, porque justamente ele descreve cenas e situações como ninguém. Como quem espia pela janela, como aquela testemunha oculta de algo que você sequer percebeu que estava sendo observado.
E como quem não quer deixar vestígios de sua existência, como um ser oculto que um dia passou por esta vida, não haverá despedidas ou velório, e seu corpo seguirá para cremação. Anônimo até o fim, encerrou o livro da vida próximo de comemorar seu centenário, que seria celebrado em abril de 2025. Mais uma estrela brilhante na constelação de imortais que nos deixou em 2024.
Por: Lana Seganfredo
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